O design e a representatividade negra

Por mais que pareça absurdo: ainda é preciso lutar pela adição de pessoas negras em fotos e ilustrações dentro de materiais do design gráfico

Foto: Pexels.

Embora pareça lógico, grande parte do material produzido para mídias sociais possui muito menos representatividade negra do que se possa imaginar. Basta você observar o quanto de personagens negros você consegue encontrar seja em bonequinhos de vetores ou pessoas em fotos.

Ainda que o Freepik, por exemplo, adicione personagens negros nos vetores que dispõe, eles serão mais facilmente encontrados quando se pesquisa por black people/person ou pessoas negras. Fora essa busca específica você verá muitos poucos personagens negros dos vetores e em algumas páginas da busca… Nenhum.

A mesma coisa acontece na hora de procurar por fotos envolvendo pessoas nos bancos de imagens gratuitas. Se você procurar por grupo de pessoas ou amigos você verá que, para parecer ligeiramente inclusivo, alguns grupos possuem uma pessoa negra. Mas a grande maioria não tem mais de dois. Muitas vezes nenhum.

E, talvez, por causa disso (também) que mal vemos negros representados em artes para mídias sociais. A não ser que sejam de causas ou grupos específicos. Fora isso? Mal se vê.

Mas é aqui que você, querido designer gráfico, tem a chance de começar a fazer a diferença. Adicione personagens negros nas suas artes. Sejam elas com pessoas em vetor ou fotos. Adicione mulheres negras liderando equipes - e não somente de negros. Dê espaço para ilustrar a representatividade.

“Ah, mas se meu cliente não gostar?”

Bem, se ele não gostar, você já sabe que muito provavelmente ele é racista. E aí cabe a você decidir se quer continuar a trabalhar com ele ou não.

Eu adiciono negros nas minhas artes desde 2017

Foi nesse ano que a minha ficha caiu. “Peraí, por que não se adicionam negros nas artes?”, em especial vetores? A gente pode pensar que é porque o banco maior de vetores fica fora do Brasil, mas ué, tem negros no mundo inteiro. Isso não é uma justificativa. É apenas que, embora seja óbvio, ainda é preciso ensinar aos demais que a representatividade racial - inclusive nas artes gráficas - precisa ser ensinada.

É isso, sem mais.

Então desde aquele ano passei a incluir personagens negros nas minhas artes com vetores e fotos.

E sabe o que eu recebi de feedback? Elogios. O que me deixa pasma, na realidade, porque não é bem algo que se espera receber. Elogios por incluir negros, representá-los nas ilustrações uma vez que o Brasil é miscigenado há eras.

Às vezes me dava aquela sensação de error 404 quando me diziam “nossa que legal, você incluiu um negro ali e ali”. Ou ainda “bem pensado, foi bom incluir negros”. Ou ainda (!!!) “realmente, incluir negros foi uma boa ideia”. Sim, essa última foi tipo “meu Deus, como assim você nunca sequer pediu para alguém adicionar personagens negros nas suas artes??”.

É de certa forma chocante perceber e receber essas reações. E apesar disso, você vê o quanto é raro esse movimento do designer gráfico em adicionar negros a ponto do cliente perceber a atitude e elogiar.

Isso é um alerta tão gritante que não sei como as pessoas não perceberam isso ainda. Aliás, como os designers gráficos - de modo geral - não perceberam isso e não incluíram em suas artes.

É adicionando as figuras negras no seu trabalho que você vai ensinar aos outros que sim, a gente mora em um país miscigenado e não europeu brancão. Que lá fora quando a gente sai do home office ou do escritório você vai se deparar com várias cores, uma mais bonita que a outra. Então qual é o sentido de focar em somente uma ao representar pessoas?

Zero sentido!

“Ah, mas onde eu vou achar fotos de pessoas negras para usar nas artes?”

Lhe apresento o Pexels. Sim, esse maravilhoso banco de fotos livres de direitos autorais investe pesado em disponibilizar fotos de pessoas negras. Ele sempre promove concursos com esta temática, então o que não falta são pessoas negras em cargos de liderança, trabalho em equipe. Só mulheres negras, mulheres negras liderando, grupos de brancos e negros, amigos, não amigos, beleza, estética e assim vai. Lá é onde eu geralmente pego as fotos (inclusive essa da postagem).

E você também pode contar bastante com o Freepik, mas ali para achar mais abertamente e de forma ‘aleatória’, você precisa ser específico quanto a cor das pessoas ou etnia. Não é que você não vá encontrar aqui e ali um negro ao procurar pessoas, mas encontrar como se encontra no Pexels você não vai.

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Espero que a partir de agora você comece a adicionar representatividade negra nas suas artes e a indicar isto a colegas também.

É a nossa forma de ensinar quem ‘está de fora’ e mostrar que negros podem e devem estar presentes nas imagens e ilustrações - e sem necessariamente ser sobre eles. Eles compõem, também, a nossa sociedade. E as pessoas precisam ‘ser lembradas’ disso.

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SOBRE A AUTORA

Maíra Melo Designer

Maíra Melo é designer gráfico desde 2012 e iniciou sua carreira como designer gráfico freelancer. Multidisciplinar, atende clientes de diversos nichos desde ESG à Yoga. Virginiana, gosta de ensinar e empreender.